Criado pelo Governo de Minas em 9 de maio de 2022, o Vale do Lítio completa dois anos com R$ 6,3 bilhões em investimentos privados e 3,9 mil empregos diretos em 17 municípios dos Vales do Jequitinhonha e do Norte de Minas, como Araçuaí, Coronel Murta, Itaobim e Taiobeiras.

A cidade de Taiobeiras, embora ainda sem extração mineral direta, sente os efeitos indiretos da mineração. O secretário de Desenvolvimento Econômico local, Kennedy Correa de Almeida, destaca o aumento da demanda por serviços e a construção de pelo menos cinco hotéis nos últimos dois anos, impulsionados pela chegada de técnicos e representantes das mineradoras.

Em paralelo ao crescimento urbano, o município também se prepara para atender à futura demanda por mão de obra especializada. “No programa Trilhas do Futuro, já estamos cadastrados para oferecer, a partir do ano que vem, capacitações voltadas para as mineradoras. Teremos cursos de edificações, segurança do trabalho, entre outros”, afirmou.

Entretanto, o crescimento traz desafios como o aumento do custo de vida e a pressão sobre o mercado imobiliário. “O impacto dessas grandes empresas na cidade é direto. Os aluguéis aumentam, a demanda por moradia cresce, e isso já é um problema crônico na nossa região. Por isso, já estamos pensando em abrir loteamentos sociais”, explicou Almeida.

Marcos Antônio Ribeiro Silva, agente de turismo rural em Medina, ressalta que o Vale do Jequitinhonha ganhou nova identidade no cenário nacional. “Antes era visto como o vale da miséria. Hoje é conhecido como Vale do Lítio. Inclusive, quem acabou de adquirir uma área aqui foi o Elon Musk.” Em cidades como Araçuaí e Itinga, o crescimento do setor turístico já é visível, com a abertura de novos hotéis e pousadas.
 
TERRA FERIDA
Apesar dos avanços econômicos, a mineração no Vale do Lítio também gera tensão. A liderança indígena Tita Maxakali, de Coronel Murta, denuncia os impactos das mineradoras, que, segundo ela, não se limitam à degradação ambiental, mas ameaçam modos de vida e territórios tradicionais. 

“A chegada das mineradoras ao nosso território fere a Mãe Terra, acaba com o nosso oxigênio e toca profundamente na nossa ancestralidade, na nossa história, na nossa cultura”, afirmou. Tita destacou que os sítios arqueológicos presentes nas serras da região, como as pinturas rupestres deixadas pelos anteados, podem ser destruídos. “Elas vão acabar destruindo os registros que nossa ancestralidade deixou. Isso é um apagamento histórico”, disse.

Em resposta aos argumentos favoráveis à mineração, principalmente entre moradores não indígenas, que veem na atividade uma oportunidade de emprego e desenvolvimento econômico, Tita foi enfática: “Eles estão pensando só no agora, só no imediato. Visam apenas o lucro e esquecem do que a gente aprende logo na primeira série: a maior fonte de oxigênio para os seres vivos são as árvores”.

A indígena ainda alertou para as consequências ambientais mais amplas da exploração mineral, como a contaminação do lençol freático e a destruição dos cursos d’água. “As mineradoras vão afetar o lençol freático de Coronel Murta. Sem oxigênio e com a água contaminada, não vai mais existir peixe, que já está escasso devido à barragem. Vai acontecer a total destruição das águas. E a gente vai ter que abandonar o território ancestral. Vamos ter que sair do território que é nosso, um lugar sagrado que existe há mais de 10 mil anos, como as pinturas podem comprovar através dos estudos arqueológicos. Vamos entregar isso para as mineradoras”, lamentou.